ENTENDIMENTO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS ENTIDADES ESPORTIVAS, SOB A ÓPTICA DOS DIRIGENTES
Henrique César Melo Ribeiro*
Doutor em Administração de Empresas pela Universidade Nove de Julho
Professor Adjunto da Universidade Federal do Piauí, Professor do Mestrado Profissional em Administração / Gestão do Esporte (MPAGE - UNINOVE)
E-mail: [email protected]
RESUMO
O objetivo deste estudo foi observar o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes. Para isso, trabalhou-se oito entidades esportivas, por meio do método de estudo de caso múltiplo, entrevistando no total de 13 dirigentes, ou seja, dirigentes. Para a análise dos dados, utilizou-se primeiramente a análise intra-casos e a posteriori a análise inter-casos. Observando o ponto de vista dos dirigentes, das entidades esportivas estudadas, sobre o que vem a ser governança corporativa, observou-se uma miscelânea de ideias que se confirmavam e, ao mesmo tempo, se complementavam, gerando um conceito único sobre governança corporativa, que é corroborado pelos teóricos da área. Esta informação mostra que os dirigentes das entidades esportivas estudadas, mesmo que não tenham em seus respectivos sites, áreas exclusivas para acomodar e evidenciar suas boas práticas de governança corporativa, têm noção e conhecem a importância que esta temática representa em todas as suas nuances para a melhor performance de suas respectivas entidades esportivas.
Palavras-chave: Governança corporativa; Dirigentes; Entidades esportivas.
UNDERSTANDING CORPORATE GOVERNANCE IN SPORTS ENTITIES, FROM THE PERSPECTIVE OF LEADERS
ABSTRACT
The aim of this study was to observe the understanding of corporate governance in sport organizations, from the perspective of leaders. To do this, we worked eight sports entities, by the method of multiple case study, interviewing a total of 13 leaders, ie directors. For data analysis, first we used the intra-case analysis and the subsequent cross-case analysis. Observing the point of view of directors of sport organizations studied, what comes to corporate governance, there is a smorgasbord of ideas that were confirmed and at the same time, complemented by generating a unique concept of corporate governance, which is corroborated by the theoretical area. This information shows that the leaders of the studied sports entities, even though they have on their respective websites, exclusive areas to accommodate and highlight their good corporate governance practices, are aware and know the importance of this theme is in all its nuances to best performance in their respective sports entities.
Keywords: Corporative governance; Leaders; Sports Entities.
COMPRENSIÓN DE LA GOBIERNO CORPORATIVO EN LAS ENTIDADES DEPORTIVAS, BAJO LA ÓPTICA DE LOS DIRIGENTES
RESUMEN
El objetivo de este estudio era observar la comprensión de gobierno corporativo en las entidades deportivas, desde la perspectiva de las partes dirigentes. Para este ocho organismos deportivos trabajado mediante el método de estudio de casos múltiples, entrevistando total de 13 dirigentes, a saber líderes. Para el análisis de datos, se utiliza principalmente para el análisis intra-caso y el análisis inter-caso posterior. Tomando nota de la opinión de los dirigentes de las entidades deportivas estudiadas, lo que viene a gobierno corporativo, había una mezcolanza de ideas que confirmen y, al mismo tiempo, que se complementa mediante la generación de un concepto único de gobierno corporativo, que se apoya en el área teórica. Esta información muestra que los líderes de las entidades deportivas estudiadas, aunque no en sus respectivos sitios web, zonas exclusivas para acomodar y poner de relieve sus buenas prácticas de gobierno corporativo, son conscientes y saben la importancia de este tema es en todos sus matices a la mejor desempeño de sus órganos respectivos deportes.
Palabras clave: Gobierno corporativo; Dirigentes; Entidades deportivas
A governança corporativa é um assunto que vem se tornando conhecido em diversas áreas da sociedade brasileira (Grün, 2005) e também no exterior (Newland, 2010), sendo considerada como um conjunto de processos (Erfurth & Bezerra, 2013) que geram boas práticas que tem como objetivo otimizar a performance das organizações por meio de um maior controle interno (Marques, 2007; Carioca, De Luca & Ponte, 2010; Oliveira et al., 2013) tendo como base seus princípios balizadores: transparência, prestação de contas, equidade, ética e responsabilidade social (Chen et al., 2007; Machado Filho et al., 2007; Lima et al., 2006; Rodriguez-Dominguez, Gallego-Alvarez & Garcia-Sanchez, 2009; Bogoni et al, 2010; Azevedo et al., 2011; Ribeiro, 2014).
Desde a década de 1990, as boas práticas de governança corporativa têm sido implementadas em organizações de capital aberto (Souza & Borba, 2007). Até por isso, desde então, trabalhos sobre governança corporativa vem sendo fomentados, difundidos e disseminados por meio da academia não somente em pesquisas sobre o setor privado (Terra & Lima, 2006; Filho & Picolin, 2008; Miranda & Amaral, 2011), mas também na área pública (Marques, 2007; Bogoni et al., 2010; Campanário et al., 2014), no terceiro setor (Mendonça & Filho, 2004; Marques & Costa, 2009) e no esporte (Ferkins, Mcdonald & Shilbury, 2010; Ferkins & Shilbury, 2012; Marques & Costa, 2016).
Entre estes setores, o esporte se configura não somente como um importante agente socializador (Rubio, 2006), mas também como um negócio submetido aos ditames mercadológicos, notadamente no que se refere ao nível profissional competitivo (Alves & Pieranti, 2007). Nesta linha, este estudo observa o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes.
A importância deste tema veio do interesse de melhor entender como estas entidades se relacionam com as boas práticas de governança corporativa, por meio do entendimento que seus dirigentes (stakeholders) têm sobre este assunto (Varotti & Malaia, 2016; Ribeiro & Costa, 2017). Entende-se que, em razão do crescimento que passam, essas entidades ficam cada vez mais expostas às inevitáveis forças do mercado, e, nesse processo, se esforçam para manter a gestão equilibrada, evitando, assim, questões de conflitos de agência (Ferkins, Shilbury & Mcdonald, 2009).
Diante do exposto, contempla-se a seguir questão de pesquisa que norteou este trabalho: Como é o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes? E o objetivo geral foi: observar o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes.
Justifica-se este estudo, pois, é necessário melhor compreensão das boas práticas de governança corporativa nas entidades esportivas no Brasil, mediante, a observação de seu entendimento perante os seus respectivos dirigentes. Esse enfoque sobre esse tema contribuirá para a literatura acadêmica em dois aspectos: (1) amplia o conhecimento da governança corporativa, na medida em que inclui uma nova dimensão para o problema – a das empresas esportivas; e (2) amplia o conhecimento do entendimento que os dirigentes de suas respectivas entidades esportivas têm sobre o tema governança corporativa, que é tão embrionário na literatura acadêmica nacional (Zouain, Alves & Pieranti, 2006).
Este estudo está dividido em cinco seções. A primeira contempla a introdução, questão, objetivo e justificativa da pesquisa. Em seguida é evidenciada a fundamentação teórica. A terceira seção foca nos procedimentos metodológicos. A análise e discussão dos resultados é realçada na seção quatro. E por fim, vem as considerações finais, com as contribuições, limitações e sugestões para estudos futuros.
Esta seção abordará o assunto governança corporativa, por meio de pensamentos de autores seminais e profícuos, enfatizando a importância que este tema tem para as organizações, em especial, nas entidades esportivas, que é o universo desta pesquisa.
A Governança Corporativa é fruto de amplas discussões que assinalam para a obrigação de se pensar em como melhor governar, organizar e possibilitar maior transparência no processo de gestão nas organizações, no tocante ao ato de gerenciar (Silveira, 2005; Bertucci, Bernardes & Brandão, 2006; Lameira; Jr. Ness & Maceso-Soares, 2007; Marques, 2007), tendo como objetivo minimizar os problemas de agência (Marques, 2007; Brey et al., 2014).
A Governança Corporativa é fundamental para o desenvolvimento das organizações (Vilhena & Camargos, 2015). Segundo Larcker, Richardson e Tuna (2007), sua importância evidencia-se pelo crescimento considerável da literatura empírica do ramo, versando sobre a Governança Corporativa na Contabilidade, Economia, Finanças, Gestão, Teoria da Organização e nas próprias ações de estratégia corporativa das empresas (Hoskisson et al., 2000; Leal & Saito, 2003; Hendry & Kiel, 2004; Von Werder, 2011; Ribeiro & Santos, 2015; Cunha, Santos & Haveroth, 2017). A adoção das boas práticas de Governança Corporativa tem papel preponderante no desempenho das empresas (Kassinis & Vafeas, 2002; Sonza; Kloeckner, 2014), maximizando seu fluxo de investimento e diminuindo o custo de capital (Oman, 2001).
Sendo assim, observa-se que as práticas de governança corporativa estão sendo institucionalizadas nas empresas de capital pelo mundo, afetando em modelos de governança corporativa socialmente desejados e legitimados (Grün, 2005; Rossoni & Machado-da-Silva, 2010), aumentando, a posteriori, a capacidade das empresas em competir estrategicamente (Carver, 2010), como também na avaliação de seu desempenho no mercado de capitais (Cheung et al., 2011; Camilo, Marcon & Bandeira-de-Mello, 2012), sendo tudo isso, respaldado pelos princípios balizadores das boas práticas de governança corporativa (Andrade & Rossetti, 2009; Weitzner & Peridis, 2011), transparência, prestação de contas, equidade, ética e responsabilidade social (Chen et al., 2007; Machado Filho et al., 2007; Lima et al., 2006; Rodriguez-Dominguez, Gallego-Alvarez & Garcia-Sanchez, 2009; Bogoni et al., 2010; Azevedo et al., 2011; Faleye & Trahan, 2011; Zattoni, 2011; Martin & Gollan, 2012; Nordberg, 2012; Ribeiro, 2014).
Tais preceitos foram seguidos por códigos de boas práticas de governança em alguns países (Aguilera & Cuervo-Cazurra, 2009), inclusive no Brasil (Rossoni & Machado-da-Silva, 2010), podendo ser utilizados, em alguns casos, de maneira adaptada (Marques & Costa, 2009), como, por exemplo, em entidades públicas (Marques, 2007; Bogoni et al., 2010; Campanário et al., 2014), nas PMEs (Clarke & Klettner, 2009) e nas entidade esportivas (Hoye & Cuskelly, 2007; Groeneveld, 2009).
Constata-se que as empresas, que atendem as exigências propostas pelos princípios balizadores das boas práticas de governança corporativa, criam um ambiente favorável ao alinhamento entre os acionistas e gestores (Almeida et al., 2010), contribuindo para que seu valor seja fomentado pelo mercado de capitais (Lameira, Jr. Ness & Macedo-Soares, 2007). Remete-se também a importância que os mecanismos de governança corporativa têm para as entidades, junto com os princípios de governança anteriormente citados (Marques & Costa, 2009; Almeida et al., 2010).
Os mecanismos de governança, que são baseados em interações e relacionamentos complexos, são conhecidos como Governança Colaborativa (Zadek, 2008; Rasche, 2010), ou seja, uma forma alternativa para o realinhamento dos interesses de todos os agentes econômicos, facilitando o compartilhamento de informações, além de trazer a vantagem competitiva para as empresas, sejam elas corporações multinacionais ou em escala menor (Todeva, 2010).
Ressalta-se que o Conselho de Administração e a estrutura de propriedade são os principais mecanismos de governança corporativa (Pires, 2009; Brey et al., 2014), pois alinham e harmonizam os interesses de acionistas e gestores de uma organização (Yermack, 1996; Himmelberg, Hubbard & Palia, 1999; Andrade et al., 2009) para redução de problemas de agência (Holtz & Sarlo Neto, 2014), principalmente numa situação de separação entre propriedade e gestão (Silveira, Barros & Famá, 2003).
A governança corporativa tem como objetivo minimizar os conflitos de agência (Bruton et al., 2010; Girioli et al., 2014) que se manifestam nos negócios, inclusive no esporte (...) ou seja, pode ter os mesmos elementos estruturais, como ocorrem em empresas em geral (Sherry, Shilbury & Wood, 2007). Também ela pode ser importante na gestão, ou seja, influencia na forma que a organização é dirigida e controlada (...), tal conceito também centra-se nas entidades esportivas (Healey, 2012), ainda que caracterizando-a como embrionária neste setor (Zouain, Alves & Pieranti, 2006).
Observa-se que a governança se aplica ao esporte (Holt, 2009; Leopkey & Parent, 2012) atribuindo maior capacidade de melhora da performance da gestão do Conselho de Administração (Taylor & O’sullivan, 2009; Ferkins & Shilbury, 2012), nas entidades esportivas (Ferkins, Mcdonald & Shilbury, 2010), influenciando na execução da estratégia (Ferkins & Shilbury, 2012; Shilbury & Ferkins, 2011; Ferkins, Shilbury & Mcdonald, 2009), nas tomadas de decisão (Kikulis, 2000), na eficácia organizacional (Ferkins, Shilbury & Mcdonald, 2005).
É visível a importância da governança corporativa para a gestão das entidades esportivas (Ferkins, Shilbury & Mcdonald, 2005), ajudando na sustentabilidade (Mendonça et al., 2013) no esporte (Groeneveld, 2009; Ferkins, Shilbury & Ian O’Boyle, 2017). Em suma, a governança do esporte é responsável pelo funcionamento e pela direção geral da organização esportiva e é componente preponderante na institucionalização de códigos de boas práticas de governança corporativa em organismos públicos e/ou privados, agências, e equipes profissionais de esporte em todo o mundo (Thoma & Chalip, 1996; Ferkins, Shilbury & Mcdonald, 2009; Mcnamee & Fleming, 2007).
A presente pesquisa busca responder à seguinte questão de pesquisa: Como é o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes? Ela contribui com a ampliação de um conhecimento generalizado sobre os temas, justificando assim a pesquisa qualitativa que foi predominante neste estudo.
Os métodos utilizados neste estudo foram a pesquisa bibliográfica, com foco direcionado aos temas (constructos) deste trabalho correlacionados, utilizando autores seminais e importantes que trabalham a governança corporativa em entidades esportivas. Portanto, foi uma pesquisa que adotou o método de pesquisa qualitativa, por meio de entrevistas com pessoas cruciais das entidades objeto de estudo.
Salienta-se que a utilização das entrevistas adequa-se quando é necessário explorar práticas, crenças, valores e sistemas, sendo que se elas (entrevistas) forem bem utilizadas, permitirão uma análise mais aperfeiçoada, coletando indícios de como os dirigentes percebem a realidade de sua respectiva entidade esportiva. As entrevistas, proporcionam panoramas de maior contato com o pesquisado, provocando discussões, facilitando assim a obtenção de respostas para a questão de pesquisa.
Portanto, a entrevista semiestruturada foi a ferramenta de coleta de dados utilizada neste estudo, proporcionando aos entrevistados a possibilidade de se colocarem na pesquisa, por meio da evidenciação de suas respectivas opiniões, pois, ao provocar a reflexão sobre o juízo de valor do respondente, é possível, recolher várias informações sobre os temas em debate, proporcionando respostas de maior amplitude.
Remete-se que a amostra das entidades esportivas para se fazer o estudo de caso múltiplo foi feita por conveniência e oportunidade, e não para aumentar a possibilidade de inferências (Campomar, 1991). Sendo assim, foram escolhidas oito entidades esportivas, sendo quatro Confederações e quatro Federações para se efetuar assim, oito Estudos de Caso. Como evidenciado antes, esta amostra foi feita por conveniência e oportunidade, contudo, seu tamanho reduzido e intencional na escolha não podem permitir generalizações das análises, inferências e conclusões para os restantes das Confederações e Federações que não foram estudadas.
Diante do exposto, oito entidades esportivas foram escolhidas e convidadas, mediante uma carta convite assinada pelo pesquisador e seu orientador, enviada por e-mail dirigido ao seu respectivo presidente ou ao principal executivo. Essas oito entidades esportivas que constituíram a amostra por conveniência e oportunidade para o estudo de caso múltiplo desta pesquisa, foram: Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Confederação Brasileira de Futsal (CBFS), Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Federação Paulista de Atletismo (FPAt), Federação Paulista de Voleibol (FPV), Federação Paulista de Futsal (FPFS) e a Federação Catarinense de Tênis de Mesa (FCTM).
Foram realizadas entrevistas com dirigentes destas entidades, com grande conhecimento sobre o tema pesquisado e com pontos de vista diferentes. Os dados obtidos, mediante estas entrevistas, serão de fundamental importância para compreensão do fenômeno estudado, permitindo, a posteriori, observar o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes.
Para tanto, foram entrevistados 13 dirigentes (Quadro 1), dos quais, nenhum pediu anonimato, mas, de qualquer maneira, optou-se por manter todos os entrevistados no anonimato. Realça-se também que dos 13 entrevistados, seis são Presidentes e os demais diretores.
Nome | Função |
Entrevistado 1 (E1) | Presidente da Confederação Brasileira de Judô |
Entrevistado 2 (E2) | Presidente da Confederação Brasileira de Futsal |
Entrevistado 3 (E3) | Presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa |
Entrevistado 4 (E4) | Presidente da Federação Paulista de Atletismo |
Entrevistado 5 (E5) | Presidente da Federação Paulista de Futsal |
Entrevistado 6 (E6) | Presidente da Federação Catarinense de Tênis de Mesa |
Entrevistado 7 (E7) | Diretor da área de Administração da Confederação Brasileira de Atletismo |
Entrevistado 8 (E8) | Diretor da área Comercial da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa |
Entrevistado 9 (E9) | Diretor da área de Administração da Federação Paulista de Atletismo |
Entrevistado 10 (E10) | Diretor da área de Administração da Federação Paulista de Voleibol |
Entrevistado 11 (E11) | Diretor da área de Administração da Federação Paulista de Futsal |
Entrevistado 12 (E12) | Diretor da área de Marketing da Federação Paulista de Futsal |
Entrevistado 13 (E13) | Diretor da área de Finanças da Federação Paulista de Futsal |
Quadro 1: Dirigentes entrevistados
Fonte: Elaborado pelo autor
Foi utilizado o estudo de caso como método de pesquisa para este estudo. Justifica-se o uso deste método, pois, sendo Yin (2005) um estudo de caso é uma forma de investigação empírica que estuda um fenômeno contemporâneo em seu contexto da vida real, especificamente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não se encontram claramente determinados.
Salienta-se que em situações onde os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se fazer observações diretas e entrevistas sistemáticas, há preferência para o uso do estudo de caso (Bressan, 2000).
Com isso, o estudo de caso é definido como aquele que examina um fenômeno em seu ambiente natural, visando obter informações de uma ou mais entidades. Essa estratégia de pesquisa possui caráter exploratório, sendo que tal fenômeno não tem fronteiras (Pozzebon & Freitas, 1998), podendo ser utilizada na análise intensiva de um número relativamente pequeno de situações, ou um de único caso apenas, contudo, tanto para casos únicos, como multicasos, é dada ênfase à completa descrição e ao entendimento do relacionamento dos fatores de cada estudo de caso, não importando a quantidade envolvida (Campomar, 1991).
E para se fazer a análise dos oito casos, este estudo baseou-se no trabalho de Miles e Huberman (1994). Foi feita uma análise intra-casos e inter-casos, onde foi feita, em primeiro lugar, a análise individual de cada caso (intra-casos) e depois uma análise comparando os casos uns com os outros, afim de otimizar a análise dos resultados. Esta “[...] estratégia oferece base para descrições e explicações muito ricas de contextos específicos” (Vieira, 1997, p. 11).
Realça-se que a apresentação e análise dos oito estudos de caso, seguiu o roteiro sugerido por Miles e Huberman (1994), que aborda primeiramente a apresentação e análise de cada caso individualmente (intra-casos) e a comparação dos casos, ou seja, análise inter-casos.
Aqui evidenciam-se as análises dos oito casos (Miles & Huberman, 1994) sobre o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes.
Entende-se que a governança corporativa é o conjunto de regras, princípios e práticas, que norteiam o processo decisório (Weitzner & Peridis, 2011), em uma organização, a fim de que esta torne-se sustentável economicamente (Mendonça et al., 2013); e que determina como os gestores possam agir no melhor interesse dos stakeholders envolvidos na organização (Leal & Saito, 2003).
Realçam-se, a seguir, as ideias dos dirigentes entrevistados de cada entidade esportiva pesquisada, a respeito do entendimento deles sobre a governança corporativa.
O Presidente da CBJ, governança corporativa trata-se de:
Dirigir o esporte brasileiro, o esporte olímpico nacional, em todos os aspectos de dificuldades que a gente encontra no dia a dia do esporte, falta de política nacional, uma diretriz de orientação dos órgãos específicos. Da minha parte, governança é dirigir o esporte brasileiro, fundamentado nas diretrizes dos órgãos que cuidam diretamente da nossa modalidade. E o Comitê Olímpico Brasileiro é o órgão que dirige no tocante ao controle, a implementação, ou seja, um todo do esporte olímpico (E1).
Tal ideia é corroborada similarmente pelos autores Oliveira et al. (2013), os quais evidenciam que a governança corporativa desempenha o papel de dirigir e controlar as atividades de uma entidade, mediante, normas e procedimentos para uma melhor gestão. Inclusive para as organizações do esporte (Shilbury & Ferkins, 2011; Marques & Costa, 2016), por meio de seus princípios balizadores.
O dirigente da CBAt evidencia que a:
Governança corporativa é a gestão de todos os fatores que influenciam no bom desempenho das entidades esportivas, no caso da CBAt. Como dirigente, tenho que me preocupar com todos os segmentos dessa governança, tanto para atender o público interno, como também para o externo (E7).
Entende-se, com isso, que a governança corporativa ao ser adotada em entidades esportivas influencia em seu desempenho (Shilbury & Ferkins, 2011). Contudo, as boas práticas necessitam ser trabalhadas de maneira igual, ou seja, prezando a equidade e impactando na diminuição de conflitos entre os shareholders e stakeholders, que é uma questão preponderante dentro de uma visão ética da governança corporativa (Faleye & Trahan, 2011; Zattoni, 2011; Martin & Gollan, 2012; Nordberg, 2012), impactando também no desempenho destas entidades (Kassinis & Vafeas, 2002).
O Presidente da CBFS entende que:
Moderniza o esporte, profissionalizando-o (E2).
Esta afirmativa é corroborada pelos autores Marques e Costa (2009), os quais verificaram que as boas práticas de governança corporativa, quando aplicadas nas entidades esportivas, podem contribuir em um importante diferencial competitivo, acarretando no profissionalismo de sua gestão (Thoma & Chalip, 1996), isto é, em sua modernização.
Em suma, a governança corporativa como mecanismo de gestão (Pires, 2009), é preponderante para entidades esportivas amadoras (Hoye & Cuskelly, 2007), para tornarem-se profissionais; e também para estas que já são profissionais, aperfeiçoarem sua gestão e controle (Mcnamee & Fleming, 2007; Ferkins, Shilbury & Mcdonald, 2009), independe da área do esporte.
A dirigente da CBTM entende que:
São ações em conjunto que norteiam os rumos da organização, tais como costumes, procedimentos, fluxogramas de processos, planejamento estratégico, entre outras (E8).
Compreende-se que os códigos de boas práticas de governança corporativa desempenham papel preponderante nas entidades esportivas (Holt, 2009), norteando estas organizações (Ferkins, Shilbury & Mcdonald, 2009). Ressalta-se também a importância que as boas práticas de governança têm para a estratégia das organizações (Hendry & Kiel, 2004), esportivas (Ferkins & Shilbury; Mcdonald, 2005).
Já o Presidente da CBTM diz que governança corporativa é:
A forma como você transmite as suas informações para os seus clientes, da melhor forma possível. É, enfim, acho que a forma como você mostra as informações de forma mais transparente, clara possível, para os diversos clientes da entidade, e pra população geral e pra imprensa (E3).
Ao verificar a afirmativa do presidente da CBTM, observa-se uma relação forte da governança corporativa com a divulgação das informações. Sendo que esta afirmação é corroborada pelos autores Malacrida e Yamamoto (2006), ao constatarem que a evidenciação das informações de maneira transparente, são imprescindíveis para a performance das empresas, inclusive para as entidades esportivas também (Michie & Oughton, 2005).
De acordo com o dirigente da FPA, governança corporativa é:
Toda a ação que deve ser utilizada em todas as gestões, de entidades, clubes, casa, empresas, ou seja, tudo que é relacionado a transparência, prestação de contas, equidade, ética e responsabilidade social, que são as coisas exatas e corretas que devem acontecer no dia a dia de qualquer empresa, de qualquer pessoa que faz a gestão de qualquer projeto, de qualquer coisa (E9).
Constata-se a adequabilidade das boas práticas de governança corporativa em qualquer área, setor ou entidade, seja privada (Miranda & Amaral, 2011), seja pública (Bogoni et al., 2010; Campanário et al., 2014), seja terceiro setor (Marques & Costa, 2009), inclusive no esporte (Ferkins & Shilbury, 2012). Ou seja, a governança corporativa se adequa, por meio de seus princípios, na gestão das entidades esportivas (Taylor & O’sullivan, 2009). Sendo que, as organizações que conseguem se adequar melhor ao Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa, são mais bem vistas pelos stakeholders envolvidos direta ou indiretamente na gestão e controle destas entidades (Silveira, Barros & Famá, 2003).
Contudo, para o Presidente da FPA, governança corporativa é:
Um governo com cooperatividade, em todos os segmentos de uma entidade. Então, todo mundo tem que trabalhar junto, com foco na gestão, para que a entidade cresça e assuma seu real papel de importância no contexto, no nosso caso esportivo do Brasil (E4).
Essa afirmativa do Presidente da FPA é corroborada pelos autores Hamann, Khagram e Rohan (2008) e Nikoloyuk, Burns e Man (2010) que evidenciam que a governança corporativa pode ser uma forma de parceria, sendo também conhecida como governança cooperativa, envolvendo a integração de diversos stakeholders para que isso ocorra. Ressalva-se que este tipo de governança, é uma maneira de alinhar os interesses dos stakeholders, propiciando diferencial estratégico competitivo para as entidades, de grande, médio e pequeno porte (Zadek, 2008; Rasche, 2010).
O dirigente da FPV diz que:
É toda administração que envolve vários afiliados de uma corporação, por assim dizer. E a governança corporativa na FPV ajuda a administrar os clubes filiados a nós, ou seja, os que fazem parte de nossa entidade (E10).
Neste panorama, realça-se que a governança corporativa é essencial para a proteção de todas as partes interessadas (Bogoni et al., 2010), das entidades esportivas, influenciando para que estas, sejam bem administradas, de maneira eficaz, para que consigam sobreviver no cenário esportivo (hamil et al., 2004).
Para um dos dirigentes da FPFS, a governança corporativa é um:
Conjunto de processos que determinam como uma empresa é administrada (E11).
Esta afirmativa é confirmada pelos autores Erfurth e Bezerra (2013), os quais constatam que por ser um conjunto de processos, a governança se torna essencial para monitorar os stakeholders. Já Arruda, Madruga e Freitas Junior (2008) e Medeiros, Crantschaninov e Silva (2013) verificaram ser importante as boas práticas de governança corporativa nos processos da entidade, sobretudo, no panorama da contabilidade, na gestão e no controle (Cunha, Santos & Haveroth, 2017).
Corroborando com o dirigente da FPFS, o Presidente afirma que:
A Governança Corporativa, que envolve as grandes empresas, não é diferente daquela que está presente nas entidades esportivas. Tanto é verdade que a FPFS se rege por meio de seus estatutos, códigos, leis, regulamentos, etc., para uma perfeita administração, a frente de um trabalho complexo, que faz a FPFS uma das entidades mais atuantes e importantes no seu contexto (E5).
Entende com isso que a governança corporativa aplica-se ao esporte (Leopkey & Parent, 2012), atribuindo maior capacidade de gestão (Thoma & Chalip, 1996) para as entidades esportivas (Taylor & O’sullivan, 2009; Ferkins & Shilbury, 2012). Mostra, assim, a importância que as boas práticas de governança têm para todos os cenários, ou seja, para o privado (Miranda & Amaral, 2011), público (Marques, 2007), terceiro setor (Marques & Costa, 2009) e no esporte (Ferkins, Mcdonald & Shilbury, 2010; Ferkins & Shilbury, 2012).
O Presidente da FCTM, esclarece que:
A princípio, é uma norma que se adequa a qualquer instituição, pois, você precisa ter transparência, se entra dinheiro, você precisa prestar contas deste dinheiro, principalmente quando for dinheiro público, ou o dinheiro do próprio associado no caso das federações em que os atletas são associados aos clubes e os clubes são associados a federação. Você precisa ter estar prestação de contas. E também a responsabilidade social (E6).
Isto é sustentado pelos autores Del Favero (2003) e Jansson (2005), quando afirmam que a governança corporativa é uma norma, que se adequa a qualquer entidade, seja ela da área privada (Terra & Lima, 2006), pública (Marques, 2007; Campanário et al., 2014), do terceiro setor (Mendonça & Filho, 2004) e/ou de entidades esportivas (Ferkins, Mcdonald & Shilbury, 2010).
Nesta seção, contemplam-se as análises dos casos, agora, comparando-os (Miles & Huberman, 1994), mediante uma síntese das opiniões de seus Presidentes e/ou Dirigentes entrevistados das suas respectivas entidades esportivas. Para facilitar esta análise comparativa, foi criada o Quadro 2, que evidencia a opinião sintética dos dirigentes sobre a questão: Como é o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes?
Entidades esportivas/Categorias de análise | Entendimento sobre a governança corporativa |
CBAt | É a gestão de todos os fatores que influenciam no bom desempenho das entidades esportivas. |
FPA | Um governo com cooperatividade, em todos os segmentos de uma entidade, com toda a ação que deve ser utilizada em todas as gestões, de entidades, clubes, casa, empresas, ou seja, tudo que é relacionado a transparência, prestação de contas, equidade, ética e responsabilidade social. |
CBFS | Moderniza o esporte, profissionalizando-o. |
FPFS | Conjunto de processos que determinam como uma empresa é administrada. |
CBTM | São ações em conjunto que norteiam os rumos da organização. |
FCTM | É uma norma que se adequa a qualquer instituição. |
CBJ | É dirigir o esporte brasileiro, fundamentado nas diretrizes dos órgãos que cuidam diretamente da nossa modalidade. |
FPV | É toda administração que envolve vários afiliados de uma corporação, por assim dizer. |
Quadro 2. Entendimento sobre a governança corporativa
Fonte: Elaborado pelo autor
Fazendo uma análise das opiniões dos respectivos dirigentes das Confederações investigadas neste estudo sobre o entendimento deles a respeito da governança corporativa, é manifestado aqui um pensamento que se completa sobre o tema em questão. Sendo assim, pode-se entender que a governança corporativa é um conjunto de ações, que dirigem, ou seja, norteiam as entidades esportivas, mediante diretrizes, impactando em seu desempenho, modernizando-a e profissionalizando-a.
Em se tratando da comparação entre o que vem a ser governança corporativa, sob a óptica dos gestores das Federações estudadas, constata-se também uma certa relação entre as falas transcritas, criando assim o seguinte conceito: são iniciativas que precisam ser usadas em toda gestão, se adequando a qualquer organização, sendo balizadas pelos princípios: transparência, prestação de contas, equidade, ética e responsabilidade, proporcionando uma entidade bem administrada.
O objetivo deste estudo foi observar o entendimento da governança corporativa nas entidades esportivas, sob a óptica dos dirigentes. Para tanto, foi feita uma análise qualitativa, por meio, de um estudo de caso múltiplo em oito entidades esportivas, fazendo um total de 13 entrevistas. Para melhor organizar, disseminar e otimizar as análises, utilizaram-se dos métodos intra-casos e inter-casos concomitantemente, sugerido por Miles e Huberman (1994).
Verificando os resultados, no que tange, ao ponto de vista dos dirigentes, das entidades esportivas estudadas, sobre o que vem a ser governança corporativa, observou-se uma miscelânea de ideias que se confirmavam e, ao mesmo tempo, se complementavam, gerando um conceito único sobre governança, que é corroborado pelos teóricos da área. Com isso, entende que a governança corporativa é um conjunto de processos e iniciativas administrativas que pode ser utilizada, ou seja, adequada a qualquer área, setor e/ou entidade, norteando seus rumos, e que influenciam no desempenho das entidades esportivas, modernizando-as e, a posteriori, profissionalizando-as.
Esta informação mostra que os dirigentes das entidades esportivas estudadas, mesmo que não tenham em seus respectivos sites, áreas exclusivas para acomodar e evidenciar suas práticas de governança corporativa têm noção e conhecem a importância que esta temática representa em todas as suas nuances para o melhor desempenho de suas entidades. Esta informação contribui para evidenciar na literatura acadêmica nacional que uma boa governança, mesmo que não tanto aparente, se faz presente, sendo adotada e praticada por gestores de entidades esportivas, possibilizando assim, achar que a governança corporativa está saindo de sua fase rudimentar nos esportes.
Conclui-se, de maneira macro neste estudo, que, a governança corporativa, como mecanismo de gestão e controle, pode ser um manual que proporcione o surgimento, a socialização, o fomento e a disseminação de práticas organizacionais saudáveis e eficientes para todas as entidades esportivas, além de proteger e assegurar a todos os stakeholders envolvidos seus interesses. Realça-se que as considerações, contribuições e conclusões evidenciadas neste trabalho não têm pretensão de esgotar o assunto que é ainda embrionário na academia, mas sim, continuar este debate, de maneira sistêmica e estruturada, visando a otimização da modernização e profissionalização destas entidades no esporte.
Este estudo limitou em número pequeno de entrevistados, contudo, realça-se que os objetivos deste trabalho foi alçando. Porém, sugere-se um fomento das entrevistas, para realçar os achados deste estudo, otimizando-os. Outra limitação do estudo foi a não aplicação e a análise de métodos quantitativos, sobretudo, de análise multivariada de dados, que poderia aperfeiçoar as informações evidenciadas neste estudo. Sugere-se, assim, usar estas técnicas estatísticas em futuros trabalhos correlatos, para poder ratificar e, a posteriori, replicar as informações disseminadas e socializadas nesta pesquisa.
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