Parcerias e sustentabilidade
Editorial

A evolução da ideia de empreender exige, hoje, que a organização assimile que o entorno comunitário e as preocupações da sociedade fazem parte do planejamento estratégico e da noção de futuro de qualquer negócio. O modo de “fazer” com que esta evolução aconteça, no entanto, pede outro perfil decisório. A lógica de buscar colaboração fora da empresa oferece maior qualidade à definição de sustentabilidade do empreendimento. Nesse processo, compreender bem a dinâmica das parcerias é ponto básico de uma criativa inteligência de negócios.

O atual cenário de alta competição – em todos os sentidos -, com todas as mudanças, desde as novas formas de consumo até os novos papeis sociais do empreendedor, exigem também a constatação de que diferentes iniciativas da sociedade e questões do meio ambiente não são mais problemas restritos à esfera pública. Esse conjunto de demandas é melhor atendido quando a lógica da colaboração é bem assimilada. Por todos os atores sociais.

Esta percepção que aproxima a necessidade de parcerias e as práticas de sustentabilidade das empresas é o eixo temático do segundo número do Volume ٨ da Revista Metropolitana de Sustentabilidade. As diferentes formas de trabalho comum entre organizações e os diversos modos de atuação colaborativa no esforço de proteção ambiental são os temas deste número da RMS.

O artigo que abre esta edição da Revista Metropolitana de Sustentabilidade, “Responsabilidade Social e Marketing Social na Monsanto: análise pelo continuum da colaboração”, da pesquisadora Silmara Regina de Souza, da professora doutora em Administração, Teresa Dias de Toledo Pitombo, da professora doutora em Comunicação, Rosana Borges Zacaria e do professor Thel Augusto Monteiro, todos da Universidade Metodista de Piracicaba, tem como objetivo analisar os conceitos mencionados nesse modelo de colaboração entre setores.

Quanto a procedimentos metodológicos o estudo adotou a pesquisa em fontes secundárias, definindo escolha por modelo de estudo de caso. O modelo adotado na pesquisa, o de James Austin, identifica os estágios de interação entre empresas e organizações da sociedade civil, recomenda três níveis de interação entre empresas e práticas sociais: o filantrópico, o transacional e o integrativo, sempre por meio de parcerias.

A empresa selecionada na pesquisa, a Monsanto é multinacional americana, com 2.700 colaboradores, distribuídos em 40 unidades, em 12 estados brasileiros. Os resultados da pesquisa revelaram que as modalidades trabalhadas são doações, investimento social privado e patrocínio. Portanto, a empresa ainda caracteriza suas ações sociais no campo da filantropia empresarial. Com isto, pode-se dizer que, no Modelo Continuum a Monsanto ainda está no primeiro estágio, o filantrópico, com tendência para o transacional.

O segundo artigo desta edição da RMS, “Responsabilidade Social Corporativa, Reclamações e Retorno Sobre o Patrimônio Líquido: estudo em bancos atuantes no Brasil no segundo semestre de 2014”, de Natália Surellas Martins, pesquisadora em Administração da Universidade de Brasília e Carlos André de Melo Alves, docente do curso de Administração da UnB, tem como objetivo investigar a associação entre o índice de reclamações e a rentabilidade de bancos brasileiros. Portanto, atender às demandas emergentes da sociedade em geral, bem como melhorar sua imagem e reputação perante partes interessadas (stakeholders), obrigou as organizações financeiras a incorporar aos seus objetivos questões relacionadas à cidadania, à ética nos negócios e à preservação do meio ambiente. Nessa visão, o setor bancário tem, entre seus stakeholders de maior importância, os clientes e usuários de serviços.

A pesquisa, de perfil descritivo, adotou abordagem quantitativa. A amostra intencional abrangeu 22 bancos constantes do Ranking de Reclamações do Banco Central no segundo semestre de 2014. A amostra é não probabilística por acessibilidade. A amostra selecionou os 22 bancos com mais e com menos de 2 milhões de clientes. A amostra utilizou os 22 bancos com maior número de reclamações no Banco central do Brasil.

Os resultados sinalizaram associações inversas e significativas entre os índices de reclamações e o retorno sobre patrimônio líquido (RSPL). Considerando bancos com mais e com menos de 2 milhões de clientes, as associações também foram inversas. As evidências sugerem que ao serem apurados índices de reclamações considerando indicadores baseados em maior número de reclamações, pode haver uma tendência para confirmar o nível de significância de tal associação.

O texto “Diagnóstico e reflexão sobre os processos de produção mais limpa numa empresa do ramo metal-mecânico” é o terceiro artigo desta edição, do pesquisador doutor Leony Pentiado Godoy, da Universidade Federal de Santa Maria e dos pesquisadores Vinicyus Mourão Guillet, Cyro Rey Prato e Murilo Sagrillo, todos também pesquisadores da mesma universidade. A pesquisa buscou identificar oportunidades de implantação das práticas de “produção mais limpa” (PmaisL) em indústria do setor metal mecânico, definido o setor de pintura com maior potencial de poluição. A pesquisa, de perfil descritiva-explicativa, com abordagem quantitativa e qualitativa analisou os 14 passos para a implementação da PmaisL. Por questões de conveniência o estudo de caso foi desenvolvido em empresa do Rio Grande do Sul, voltada para o mercado agrícola, com 200 colaboradores.

Os resultados demonstram que, o processo de pintura pode trazer grandes prejuízos ambientais e econômicos para a organização e, que medidas simples podem trazer soluções eficazes. Ao final do estudo, foi possível traçar o perfil do resíduo gerado na câmara de pintura, com sugestão de utilização de ferramentas de gestão que impedissem a ocorrência do risco ambiental identificado.

O quarto artigo desta edição da RMS, “Descontinuidade tecnológica em patentes envolvendo o uso de cinzas de carvão: análise baseada em conteúdo textual” de Hermany Magalhães Olivense do Carmo Correio, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas e professor da UFAL, Loreni Maria dos Santos Braum Correio, professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e de Eduardo Vimercatti de Sá Correio, pesquisador da Universidade Nove de Julho, tem como objetivo tanto verificar a descontinuidade tecnológica nas áreas que utilizam as cinzas de carvão, através do banco de patentes e outras fontes, como analisar o comportamento da tecnologia dominante e o direcionamento de conteúdo das patentes.

Os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa seguiram três etapas: i) Bibliometria; ii) Análise das patentes existentes na base de dados patent2net.vlab4u.info; iii) Análise de conteúdo das patentes, através do software de análise textual Iramuteq. Os resultados da pesquisa revelaram que a maior parte das patentes são registradas, mas existe tendência de descontinuidade tecnológica.

A evolução do registro de patentes por Seção revelou que uma área tem um grande número de registros, com um aumento significativo os últimos 20 anos, enquanto outras seções estão sem registro desde 2012. Em relação ao direcionamento de patentes, verificamos que a maioria das instituições analisadas alocam seus esforços para itens específicos. O que a pesquisa observou no conteúdo das patentes é a tendência para área de tratamento de efluentes.

O quinto artigo desta edição, “Logística reversa para a destinação ambientalmente sustentável dos resíduos de construção e demolição (RCD), de Matheus Henrique Silva Santos, pesquisador da Universidade Federal do ABC e Márcia Maria Penteado Marchesini, pesquisadora doutora da mesma universidade, partiu da constatação de que a construção civil é setor que demanda de muitos recursos naturais e gera muitos resíduos, cerca de 150 milhões de toneladas de resíduos em 2014. Os autores apontam que muitos desses resíduos não retornam para a cadeia de valor, tanto pela falta de políticas de incentivo, de leis que punam transgressores, ou pela falta de iniciativa das empresas do setor. A pesquisa tem como objetivo geral o mapeamento das etapas e atividades do ciclo de retorno para o reaproveitamento ou a destinação final ambientalmente correta dos RCD, identificando as empresas envolvidas nesse canal reverso.

Enquanto procedimento metodológico, trata-se de pesquisa aplicada, qualitativa, de natureza exploratória com estudo de caso, feito em campo com empreiteiras de médio porte responsáveis por obra que possuía certificação de construção sustentável. O instrumento de coleta de dados foi um questionário semi-estruturado e as fontes para a pesquisa foram entrevistas pessoais e análise de relatórios e documentos. Os resultados da pesquisa mostraram que a construtora está em estado de transição entre os estágios reativo e preventivo. Os colaboradores entendem que é melhor evitar os problemas ambientais, porém, não há área específica que trata sobre o assunto.

O sexto artigo desta edição, “Governança e Desenvolvimento Local: análise do município de São José dos Campos”, de Luis Paulo Bresciani, professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Gilmara Lima de Elua Roble, docente do curso de Administração da Faculdade Metropolitanas Unidas, Alessandro Marco Rossini, professor da Universidade Anhanguera, tem como objetivo identificar e analisar a articulação entre empresas, centros de pesquisa, universidades, poder público e atores relevantes do município de São José dos Campos, tendo como objeto de investigação a Governança como estratégia para o desenvolvimento local.

O município foi identificado como pertencendo a uma das regiões brasileiras com maior densidade tecnológica, com cerca de 30 ocupações no setor de tecnologia para cada 1.000 empregos. Em termos metodológicos foi realizada pesquisa qualitativa, por meio de entrevista semiestruturada, com treze importantes atores envolvidos neste processo, composto por centros de pesquisa, universidades, empresas, órgãos públicos e entidades articuladoras do processo de transferência de conhecimento e inovação.

Os resultados da pesquisa mostraram que o município possui a governança como um dos elementos estratégicos de desenvolvimento local e que a relação entre os atores envolvidos neste processo ocorre de maneira sistêmica e articulada, sendo também influenciada pelos contatos interpessoais entre esses atores. Um exemplo deste processo de articulação e comunicação se dá quando da alteração de grade curricular ou criação de cursos pelas universidades e instituições de ensino locais utilizam as demandas das empresas. Porém, verifica-se a necessidade de que os mecanismos de articulação territorial envolvam as cadeias de suprimento e de produção de modo mais abrangente, pois atualmente incluem basicamente as grandes instituições do sistema local e grandes empresas presentes no topo destas cadeias de produção.

O texto, “Inclusão social de pessoas com deficiência por empresas na região da Grande Florianópolis/SC”, sétimo artigo deste número da RMS, de Ana Karina Hahn e Jackson Cittadin, ambos pesquisadores mestres da Universidade do Sul de Santa Catarina, Simone Sehnem e Nei Antonio Nunes, ambos pesquisadores doutores em Administração da mesma instituição, tem como objetivo analisar como é realizada a inserção profissional de pessoas com deficiência (PCDs) na região da Grande Florianópolis/SC, e se esta pode ser considerada uma prática inovadora de inclusão profissional e social. Enquanto procedimento metodológico, a pesquisa em formato de estudo de caso, com abordagem qualitativa, usou coleta de dados através do instrumento de entrevista em profundidade e análise de documentos.

Os resultados da pesquisa mostraram que, passados mais de duas décadas da Lei nº 8.213, de 1991, muitas empresas ainda contratam tendo em vista, unicamente, cumprir a lei das cotas. Os dados coletados indicam que muitas empresas não estão preparadas para receber essas pessoas e, assim, para lidarem com suas especificidades. O discurso corporativo da inserção profissional esconde, não raro, a intenção de muitas empresas em contratar pessoas com deficiências físicas muito leves (quase inexistentes), o que descaracteriza o sentido da inserção inclusiva.

O artigo que fecha esta edição da Revista Metropolitana de Sustentabilidade, “Estudo do processo de tratamento de esgoto doméstico por Wetlands”, vinculado à área de Ciências Ambientais, de Junior Melo Silva, pesquisador Pós-Doutor em Engenharia pela Universidade de Campinas (Unicamp), partiu da constatação relativa à a escassez dos recursos hídricos no mundo exigindo o desenvolvimento de tecnologias para o tratamento dos esgotos gerados nas comunidades humanas. O sistema de alagados construídos é uma dessas tecnologias, tratando-se de sistema com capacidade de remover os nutrientes presentes na composição dos esgotos domésticos. O objetivo principal da pesquisa foi monitorar durante duas semanas distintas, em épocas climáticas diferentes (primavera e inverno), a remoção de nutrientes, fósforo e nitrato, presentes no efluente de um sistema piloto de alagados construídos que tratava uma parcela do esgoto gerado na Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), SP, Brasil.

Os mecanismos de assimilação dos poluentes nos alagados dependem principalmente do suprimento de oxigênio propiciado aos microorganismos. Para uma remoção do fósforo, deve-se ter atenção de um meio suporte que crie condições para que ocorram os processos de adsorção. Quanto aos resultados encontrados, a remoção de nitrato para os alagados com a Typha latifolia e Phragmites carca foi de 65% a 73% respectivamente. Para a remoção de fósforo total foi de 28% a 41% e para redução de DBO de 78% a 91% respectivamente.

Boa Leitura!

Elza Fátima Rosa Veloso
Editora Científica